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Unsatisfashion 3

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FASHION TECHmoda_digitalnúmero três.live_commerceblockchaintecnologia_têxtilN.3NOV/FEV 2020/2021

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3editorialUNSATISFASHION TECNOLOGIADe origem grega, a palavra tecnologia – tema deste número da Unsatisfashion -, refere-se ao tratado das artes e das técnicas, vistas como inseparáveis. A retomada do termo durante o século 19, a ligou denitivamente à produção industrializada que, durante aquele período, se consolidava. Entendida como uma régua para medir o avanço, o desempenho e até mesmo qualidade dos produtos e processos dentro dos limites da indústria, hoje ela não está só do lado da produção, mas também do consumidor e usuário. Sem dúvida a tecnologia é uma extensão humana que amplia nossos sentidos ou, uma prótese técnica, como diria McLuhan.Assim, este número da Unsatisfashion inteiramente dedicado à tecnologia e à moda como fenômeno sociocultural, fala sobre esses dois universos. O primeiro, o da tecnologia mecânica e química dos têxteis e do vestuário e outro, mais recente, baseado na digitalização dos processos. Hoje, a indústria têxtil e moda é um exemplo da convergência bem sucedida dessas tecnologias.Neste número, então, trabalhamos em três frentes diversas e, em uma delas, falamos da tecnologia têxtil que permite a produção de tecidos cada vez mais inovadores. Camilla Borelli colaborou na produção do encarte especial, também entrevistamos Fábio Murcia para falar sobre o projeto educacional do Senai Têxtil e Vestuário e, também, reconhecemos a Revista Têxtil em seu percurso tão longevo, pela sua indiscutível participação no desenvolvimento tecnológico dos setores têxtil e moda brasileiros desde o nal dos anos 1920.No âmbito da digitalização, consideramos seus cinco principais efeitos sobre o setor. O impacto que as tecnologias digitais têm sobre o comportamento do consumidor, o uso que as empresas fazem da tecnologia digital para substituir práticas anteriores, o efeito da transformação digital na cultura organizacional, o uso dos novos dados como estratégia de marketing e de comunicação e, também, das novas formas de consumir roupas promovidas pela digitalização. Foi o momento de tratar da transformação digital dos eventos de moda e de roupas digitais e, dois convidados especiais, Gabriel Falcione e Sandra Mathey García-Rada, colaboraram com matérias sobre o live streaming e a Première Vision Paris respectivamente.Como de costume, o artigo que atravessa o tema e trata do hoje e do futuro – que é o norte da Fashion For Future -, aborda a tecnologia invisível, aquela que está na comunicação e que afeta diretamente as outras duas. Nos dedicamos incansavelmente a uma extensa matéria sobre a blockchain e a indústria da moda, desvendando alguns mistérios e tendo a sorte de entender, antecipadamente, o futuro que nos espera.Que o próximo número nos encontre novamente livres e saudáveis nas ruas de qualquer lugar do mundo. Boa leitura,Luz Neira García Obs.: pedimos desculpas pelo atraso no lançamento da revista. Nosso calendário, a partir deste ano, será fevereiro, junho e outubro.

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4versão 1 de 22/03/20215 hoje_moda BLOCKCHAIN6 inspiracão BALENCIAGA10 produto DIGITAL FASHION14 senaiPROFISSIONAL 4.017 perlREVISTA TÊXTIL19 especialTECNOLOGIA TÊXTIL25 cultura_de_moda DIGITALIZAÇÃO DA CULTURA27 fashion_capital PREMIÈRE VISION30 fashion_business LIVE COMMERCE32 futuro_modaBLOCKCHAINN.3 NOV/FEV 2020/2021Capa: Desle Issey Miyake, Paris Fashion WeekOutono/Inverno 2016/2017 Créditos: FashionStock.com (Shutterstock)Editorial: Smart Creation, Première Vision, fevereiro 2020Créditos: Premère Vision Press area sumáriocréditosImagem RetracedTransparência tecnológicaCréditos: Cortesia RetracedCriações de BalenciagaA beleza da técnicaCréditos: Cortesia do Cristóbal Balenciaga MuseoaRoupas digitaisMundo imaginário, mundo realCréditos: Cortesia da DressX e Taisia KarpovaFabio Murcia Marquese alunos do Senai Têxtil e VestuárioA moda do futuroCréditos: Cortesia do Senai Têxtil e VestuárioRicardo e ViviMilão faz sorrirCréditos: Acervo pessoal Ricardo e Vivi HayduRevista TêxtilUma história de quase um séculoCréditos: Acervo Revista TêxtilBordado feito com luz LEDFios e pontos de luzCréditos: Wikimedia Commons. de Forster Rohner AGShowroom digitalO novo normalCréditos: Premère Vision Press areaMilano Fashion Week DigitalDo papel às telasCréditos: Camera Nazionale della Moda ItalianaPremière Vision ParisA nova informação de modaCréditos: Premère Vision Press areaSandraParis faz sorrirCréditos: Acervo pessoal Sandra Mathey García-RadaLive commerceSorria :) alguém está sendo lmadoCréditos: Tao Bao e Monki Saga FursNovos desaos para a modaCréditos: Cortesia Saga FursAgradecimentos:A Camilla Borelli, Gabriel Falcione e Sandra Mathey García-Rada que compartilharam seu conhecimento com nossos leitores e leitoras.Traduções: Vitoria Laudisio NeiraProjeto Gráco e todo o resto: Bruna + Luz

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“Hoje, as questões mais importantes na indústria da moda são rastreabilidade, sustentabilidade e impacto. Cada empresa de moda precisa perguntar a si mesma: como nossos produtos afetam as pessoas e o planeta? Eu posso mostrar a origem de minha matéria-prima?” - Tai FordPlataforma da Retraced5Essa verdade inconveniente, parafraseando o famoso documentário da campanha de Al Gore em 2006, é o ponto de inexão de duas indústrias da moda. Uma, velha e obscura, erguida a partir do desenvolvimento tecnológico da aceleração da produtividade e outra, nova e transparente, com olhos no consumidor e no seu direito à informação. Dois mundos, quase opostos, que se encontram no momento em que a tecnologia da informação permite contar a cada um de nós a história da produção de nossas roupas. Tai Ford é Diretor de Marketing da Retraced, empresa de tecnologia alemã fundada em 2019 em Düsseldorf, com o objetivo de “promover a mudança na cadeia de valor global”. Oferecem às marcas de moda um software que as auxiliam a “coletar diretamente informações sobre seus fornecedores sobre condições de trabalho, materiais, certicações e impacto ambiental e compartilhá-las com seus consumidores.” Falamos da famosa - mas ainda desconhecida -, blockchain. Blockchain, termo que começa a ser ouvido dentro da indústria da moda, tem sua origem no mercado nanceiro (bitcoins) e foi cunhado em 2008 para designar a tecnologia que permitia que se realizassem transações “entre duas pessoas ou entidades sem a necessidade de haver validação de um intermediário (como um banco), promovendo um sistema descentralizado”, explica o Dr. Victor Gayoso Martínez, do Instituto de Tecnologías Físicas y de la Información (ITEFI) e professor da U-tad, Centro Universitario de Tecnología y Arte Digital, na Espanha. No universo têxtil e moda, esta ferramenta tem sido vista com muitas expectativas, porque promete contribuir para superar dois grandes desaos da atualidade: sustentabilidade e contrafação. Esta tecnologia é pensada tendo o humano no centro do processo. Sua lógica é planejada para que o consumidor possa conhecer todo o percurso de um produto, do m para o começo, ou do des-carte à matéria-prima.Para que toda essa informação seja acessível e hoje_modaBLOCKCHAINCONTINUA NA PÁGINA 32conável, a blockchain tem como princípio a des-centralização e a segurança, devido à impossibili-dade de alteração dos dados que são encadeados. Em cada fase do processo da produção do produto, novas informações são adicionadas e sua identida-de digital total é uma construção. Uma denição simplista de blockchain a reduz a “qualquer protocolo que permita agrupar infor-mações em blocos de dados, conectando uns blocos a outros formando uma cadeia. Cada bloco é único e parte de seu conteúdo depende do conteúdo de todos os blocos anteriores e, assim que validado, passa a fazer parte da cadeia”, explica Dr. Victor. Pensando na cadeia da moda, ela é longa e comple-xa pois começa na matéria-prima, passa por inú-meras fases de transformação e o varejo não é mais o ponto nal. Podemos e devemos adicionar, desde que os blocos existam, as informações relativas às fases subsequentes do produto que poderão ser le-gíveis “por muitos anos.” Para a indústria da moda, a importância do desenvolvimento dessa tecnologia está relaciona-da à transparência e, por isso, ela é tão inovadora. Pensando a sustentabilidade, estaremos 100% se-guros do quão sustentável pode ser um produto e, do ponto de vista da contrafação, podemos saber se aquela é uma peça autêntica.

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inspiração

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MUSEU BALENCIAGAO PATRIMÔNIO DE UM DOS MAIORES GÊNIOS DA MODA Por que um criador de moda seria merecedor de um museu só seu? A resposta é inequívoca: honrar o valor de uma trajetória! Ao entrar no jovem, impressionante e inspirador Cristóbal Balenciaga Museoa (como se escreve em euskara, no idioma local) na cidade de Guetaria, ao noroeste da Espanha, nos perdemos na grandiosidade de um espaço que pretende estar à altura da força de um legado.

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Igor Uria Zubizarreta, diretor de coleções do museu Balenciaga.8O mestre espanhol Balenciaga, nascido em 1895 nesse pequeno povoado pesqueiro que conta hoje em dia com pouco mais de 2.800 habitantes, foi responsável por dar um novo rumo à moda do século 20. Ele foi o primeiro a repensar a relação entre a roupa e a silhueta feminina e tornou-se nome absoluto quando o assunto é dar luz aos processos construtivos e às técnicas na moda. Se queremos pensar o papel do “criador-fazedor” sua contribuição é inegável e, conforme passa o tempo, mais se potencializa e mostra sua pertinência. O percurso de Cristóbal Balenciaga é alinhado ao seu contexto. Filho de uma modista (palavra que em espanhol designa uma alfaiate, principalmente para mulheres) que atendia a mais alta casta vasca (pessoas originárias nessa região espanhola), desde a infância envolveu-se com o luxo e com a costura. Ainda muito jovem, começou a trabalhar como sastre (modelista de peças sob medida) em San Sebastián que, à época, despontava como o balneário preferido da nobreza e da aristocracia europeia. Distante apenas 20 quilômetros da França, durante o verão a cidade recebia as mulheres mais elegantes e sofisticadas do momento, que acompanhavam tudo o que acontecia em Paris. Nesse ambiente esplendoroso dos anos 1920 e 1930, Balenciaga aprendeu como funcionava o mundo do luxo e estabeleceu os princípios que atravessariam toda a sua criação até 1968, quando se aposentou e fechou seu ateliê de alta-costura em Paris. Segundo Igor Uria Zubizarreta, diretor de coleções do museu, “tudo o que consagrou Balenciaga, já estava ali nos seus primeiros anos”. Trata-se de uma linha contínua no caminho da abstração no entender de Igor. Para ele, a losoa de Balenciaga sobre a moda está inti-mamente ligada com a visão prossional que ele tinha de si mesmo, o que fez com que sua determinação se voltasse para o trabalho de bastidores, envolvendo-se com a modelagem e o corte, com o domínio dos materiais e com a perfeição na execução, ou seja, a técnica guiava a criação. Segundo Igor, Balenciaga, que cos-tuma dizer, “fama não é prestígio”, acreditava que ele não deveria ser reconhecido pelas ruas, mas sim suas criações. O Cristóbal Balenciaga Museoa reete esse merecido prestígio tendo se tornado um lugar onde é possível admirar e estudar a obra do mestre espanhol. Inaugurado em 2011, o museu nasceu da dedicação de 15 anos de trabalho de entes públicos e privados que queriam valorizar o legado de Balenciaga. Hoje, segundo Igor, que é responsável por cuidar do acervo e também organizar as principais exposições, o “grande museu em uma pequena cidade”, guarda cerca de 3.200 peças atribuídas ao mestre e a coleção só cresce na medida em que mais se estuda e conhece sobre o trabalho de Balenciaga. À parte do crescimento da visitação de público amador que museus e exposições de moda têm vivido nas últimas décadas, a aten-ção que a obra de Balenciaga desperta é tam-bém profissional. Principalmente no quesito técnica, sobretudo na relação entre materiais e construção (modelagem e costura), as criações de Balenciaga são inspiradoras para gerações de novos designers e marcas. Mas, sabemos, não basta olhar e reproduzir: Balenciaga é es-cultor e engenheiro em termos de criação. Há um consenso quando o assunto é o mes-tre espanhol. Enquanto outros grandes nomes são consagrados na moda por inaugurar um conceito ou uma estética, Balenciaga se eter-nizou pela técnica e, por isso, devemos olhar o que está oculto, pouco revelado. Igor, nesse sentido, destaca três aspectos que merecem es-pecial atenção: o uso de um número mínimo de costuras na execução dos modelos, a abstração do corpo e, nalmente, o espaço reservado para o ar (isso mesmo, a distância entre a roupa e

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Interior do museu Balenciaga9o corpo) nas criações. Tudo isso, salienta Igor, evoluiu e transformou-se em Balenciaga mes-mo respeitando a estética predominante de cada década. Por “usar um número mínimo de costuras e a menor quantidade possível de partes”, Igor indi-ca que já se verica a antecipação de um conceito construtivo fundamental para Balenciaga em di-reção à sintetização. A ideia de Balenciaga, desen-volvida a partir do estudo da técnica da modela-gem, do corte e da costura, era reduzir ao máximo o número de partes de composição de uma peça. Assim, as características plásticas dos tecidos, eram fundamentais para a criação das formas. Como segundo aspecto, Igor destaca abs-tração das formas. Segundo o especialista, Balenciaga já trabalhava esse conceito cons-trutivo desde os anos 1930, mas foi na déca-da seguinte, com a silhueta cocoon, que sua ideia começou a ter repercussão e a trans-formar-se em direção a uma abstração cada vez mais consistente. Apesar de recriminada inicialmente (porque não era considerada fe-minina), salienta Igor que outros criadores levaram essa ideia adiante, abstraindo o cor-po feminino, descolando-o das silhuetas ajus-tadas e curvilíneas. Essa forma, finalmente, acabou sendo considerada inclusive mais ele-gante por não acentuar demasiadamente o corpo da mulher.Por m, salienta Igor, “o ar de Balenciaga”. Para o mestre espanhol, explica, “entre o corpo e a roupa deve haver uma distância, um ar. Mas quanto ar deve haver? .... não há constância.” Segundo o especialista, isso é o que deve ser ob-servado e não a silhueta em si. A presença do ar conferia a elegância na visão de Balenciaga, pois ele acreditava que a existência de um espa-ço livre entre o corpo e a peça, garantiria o mo-vimento e o conforto. Além disso, criar estru-turas para essas roupas mantendo-as afastadas do corpo, deu origem a um novo tipo de movi-mento, pois ele deixava de ser a consequência do corpo passando a ser uma resposta a ele, na constante busca do equilíbrio entre o corpo e a indumentária. As lições técnicas de moda que aprendemos com Balenciaga são muitas e, descobrir seus segredos criativos, entrando na sua mente, é o que todo mundo quer. As hipóteses são variadas, porém, pesquisadores apontam que o domínio da técnica e dos tecidos lhe garantiu mudar os processos para chegar ao seu objetivo. Como dizia Christian Dior, os melhores criadores do mundo fazem o que é possível com os tecidos, mas Balenciaga faz o que quer.VISITA VIRTUALConheça o Museu Balenciaga por dentro, em uma visita virtual a 360º.

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produtoDIGITAL FASHIONNas últimas décadas, as tecnologias digitais vêm tomando cada vez mais espaço nas nossas vidas. Se nos anos 1980 e 1990, era um sinal de distinção ter um computador em casa, em menos de vinte anos, tornou-se corriqueiro que cada integrante da família tivesse seu dispositivo pessoal. Com o lançamento do Iphone da Apple em 2007, o smartphone passou a ser parte fundamental do nosso dia-a-dia. Quem nunca sentiu um “pequeno” desespero ao ficar algumas horas sem o próprio celular? Mas se até agora o mundo físico dos objetos era separado do digital e continuávamos apegados à materialidade e à posse das coisas e, principalmente àquelas que são do nosso uso pessoal como roupas, maquiagens e acessórios, agora tudo pode mudar. No mundo digital nos deparamos com nossas próprias personas, e nele, imagens de uma vida perfeita, são produzidas por meio de ltros e retoques, que se tornaram para algumas pessoas uma obsessão. A prova disso são as cirurgias plásticas que usam como referência as fotograas pessoais com ltros do Instagram. Alterações digitais, que diminuem os narizes e aumentam as bocas, criam um padrão de beleza que só existiria no mundo virtual. Para agravar essa questão, a pandemia do Covid-19 deixou nossa vida social ainda mais digitalizada, e como consequência, nossa relação com o mundo físico e, portanto, com as roupas de verdade, tem grande potencial para se modicar.AS NOVAS FRONTEIRAS DAS ROUPAS DIGITAIS

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Grandes marcas da moda, mas também algumas pequenas muito inovadoras, estão atentas a essa nova demanda e há algum tempo já vêm atuando nesse lugar que chamamos de mundo virtual. Tudo começou no universo dos games, onde vestir seus avatares em jogos como Fortnite e Animal Crossing se tornou uma febre: marcas como Gucci, Louis Vuitton e Chanel, passaram a vender suas peças para os jogadores mudarem suas skins. Segundo dados da revista de economia e negócios Fast Company, com certeza esse é um negócio promissor. Há um público de 25 bilhões de pessoas jogando vídeo games e gastando em média 100 bilhões de dólares por ano dentro desses jogos, o que comprova o potencial de crescimento. Esses clientes são na sua maioria adultos classe média alta, na faixa dos 30 a 40 anos, ou seja, um perl muito parecido com quem consome as marcas de luxo. MUDANÇA DE JOGOEm entrevista exclusiva para a Fashion for Future, Natalia Modenova, co-fundadora do marketplace de roupas digitais DressX, arma que durante um período as roupas digitais estavam disponíveis só para o universo dos games, mas atualmente, o jogo mudou: “Nós já nos tornamos nossos próprios avatares nas diversas mídias sociais. A moda digital foi projetada para vestir nosso ‘eu’ digital. Pessoas que trabalham com tecnologia e que são do universo dos games adotaram essa prática rapidamente, mas agora vemos que a audiência em massa está seguindo essa tendência ativamente.”Com a certeza de que a forma de consumir moda deve mudar, as sócias Daria Shapovalova e Natalia Modenova fundaram a DressX em julho de 2020. Elas transformaram seu negócio no maior marketplace do mundo para roupas digitais, e nele estão à venda em torno de 780 peças de 80 marcas e designers. Segundo Daria, que trabalha no mundo da moda há 15 anos e faz parte das 500 pessoas mais inuentes do mundo da moda na lista da Business of Fashion, 9% dos consumidores nos chamados países desenvolvidos só compram novas roupas para fazer uma foto e postar nas mídias sociais. A prova disso foi o sucesso da loja pop-up que a dupla abriu em Los Angeles em 2019 para testar a ideia. Nela, os clientes se engajaram ao vestir as roupas digitais e caram super animados em compartilhar seus looks nas suas redes sociais. A audiência da DressX veio principalmente do Instagram, TikTok e Twitter, onde inuenciadores digitais passaram a comprar suas roupas para usar em seus vídeos e fotos. Mas elas não limitam seus clientes somente a inuenciadores, e qualquer pessoa pode entrar no e-commerce e comprar sua roupa digital. É só fazer o upload das fotos ou vídeos tirados no lugar onde a pessoa quer aparecer usando a peça, e se a imagem estiver conforme as recomendações técnicas, em 24 horas o cliente terá o material. O resultado é impressionante, pois o produto virtual é quase indistinguível de um produto material. É nítido ver como as tecnologias e pesquisas na área digital estão avançando rapidamente e, por isso, a dupla pretende alcançar brevemente a entrega instantânea desse material. Com essa rapidez e a Exemplos de fotos antes e depois de clientes da DressXNa página ao lado, editorial da L’Ociel Ucrânia com roupa digital da DressX11

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transformação da área, mesmo não acreditando que a moda digital substituirá totalmente a física, Daria acredita que em um futuro próximo, seu modelo de negócios se tornará cada vez mais acessível e mais e mais pessoas usarão roupas digitais não só para as próprias redes sociais, mas para presentear, trocar e se vestir em diversas ocasiões. SUSTENTABILIDADEMesmo encantada pela beleza das roupas que usamos, Daria vê a moda digital como um caminho para incentivar a diminuição da produção, alcançar a produção mais ética e, em alguns casos, deixar de produzir. “Introduzindo a moda digital, nós queremos criar uma nova maneira de comprar conteúdo, na qual toda meninas tenha a oportunidade de vestir o que ela quiser, dez vezes mais barato que no mundo material e muito menos nocivo ao meio ambiente”, arma Daria.Natália acredita que “a DressX propõe uma alternativa para a maneira que a indústria da moda opera hoje. Roupas digitais não existem no mundo físico e por isso não poluem o ambiente.” A comunicação do marketplace enfatiza as questões da sustentabilidade da indústria, armando que, se 1% das roupas físicas fossem substituídas pelas digitais, a pegada de carbono da indústria da moda diminuiria em 35 toneladas, o que equivale à emissão de carbono anual de países como a Dinamarca.Mas não é só nas redes sociais que a moda digital pode atuar, e outra área muito promissora, é dentro das próprias marcas e fornecedores, com os protótipos em 4D. Seja para o desenvolvimento de produtos ou para a demonstração de coleções para compradores em showrooms digitais, os softwares especializados na construção desses protótipos já existem no mercado, como é o caso do oferecido pela “Acredito que a moda não tem outro caminho a não ser a digitalização. Precisamos ser mais sustentáveis e ecientes em nossas entregas, o consumidor mudou, e quem faz moda deve estar à frente dessa mudança.”- Rayama Diasempresa brasileira Audaces. O programa Audaces 4D é uma solução voltada para designers de moda que permite a criação de modelos diretamente sobre um manequim tridimensional. Por meio da tecnologia própria chamada 4DAlize, o programa tem o objetivo de otimizar a criação de produtos de moda, onde designers e fornecedores podem fazer provas de roupas e entender as mudanças de forma ágil e, inclusive, aprovar as peças sem ter que produzi-las sicamente. Rayama Dias, gerente de produto na Audaces, arma que o resultado do uso dessa tecnologia é sustentável, ou seja, diminui o desperdício de materiais, mas ao mesmo tempo aumenta a velocidade de produção.Segundo Rayama, para que a mudança no processo de desenvolvimento de produto aconteça, é necessário uma mudança de mindset. Designers e prossionais precisam se abrir para o novo, pois “não há grandes mistérios na digitalização de criação de modelos”. À frente dessa maneira de pensar, a designer de moda digital, Taisia Karpova, arma que é possível substituir de 80 a 90% dos protótipos de uma marca usando esse tipo de tecnologia. Se isso acontecer, será um grande passo da moda em direção à sustentabilidade, pois pouparemos uma série de recursos e impactaremos muito menos sobre o meio ambiente.Editorial da L’Ociel Ucrânia com roupa digital da DressX12

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COMO SER UM DESIGNER DIGITALTaisia Karpova é designer de moda e compradora há mais de 13 anos, e também já trabalhou em marcas tradicionais da indústria em países como Russia e China. Quando se mudou para a Holanda em 2016, tornou- se designer de moda digital. Ela se encantou por esse mundo virtual durante um curso dedicado ao software CLO3D. Taisia conta que o que mais a atraiu na área foi que, diferente do desenvolvimento de produto tradicional, o 3D possibilita a criação sem limites e estimula a criatividade, pois é possível recorrer a texturas, detalhes e estruturas que no desenho ou no protótipo físico muitas vezes não é concretizável. Do outro lado do mundo, Rayama conrma a liberdade e as múltiplas possibilidades do design digital: “A criação de modelos já na sua dimensão tridimensional, fará surgir um novo caminho para o designer, onde ele tem a possibilidade de mostrar um detalhamento real, da forma, textura, estampas, caimento de tecido, aviamentos e que muitas vezes uma criação manual ou em 2D exige maiores explicações para ser compreendido.”Para alcançar a liberdade de criação como um designer de roupas digitais, Taisia arma que “o prossional precisa ter conhecimento de modelagem e técnicas básicas de costura”. Isso é necessário, porque criar uma peça digital não é muito diferente de uma física no sentido técnico. Para ser bem realista e preciso, o protótipo digital deve parecer e se comportar como uma peça física, por isso o processo de criação 3D é longo. “Os tecidos digitais devem possuir propriedades físicas parecidas com o tecido físico, como dobrar, amassar, ter um caimento real.” Atualmente com a sua própria empresa, a The Visuals 3D, Taisia atende diferentes tipos de clientes, de marcas grandes a pequenos empreendedores com projetos diferentes e que requerem soluções únicas. Os clientes menores dão uma liberdade maior de criação e por isso ela acaba se envolvendo ainda mais, como o que ocorreu com a NI People, marca que faz um trabalho exclusivo com artesãos no Peru. Neste caso, os protótipos 3D são essenciais, pois além da distância entre os designers na Europa e as artesãs na América do Sul, as artesãs levariam muito tempo para produzir testes e protótipos físicos. Além de fazer modelos em 3D para substituir o mostruário, Taisia cria também desles virtuais e animações para showrooms virtuais, manequins virtuais ou até pessoas reais, com o foco em compradores ou consumidores. Tanto Rayama quanto Taisia armam que a pandemia acelerou a necessidade de roupas digitais na indústria da moda. Com o isolamento, escritórios e fábricas muitas vezes estiveram fechados, e a solução da prototipagem digital desde a criação até as vendas se tornou necessária. Por isso, a demanda por designers com a expertise em criar roupas virtuais está crescendo e é possível perceber que é um caminho sustentável e que nunca mais nada será como antes. Kaftan digital feito por Taisia Karpova para NI PeopleMockup feito por Taisia Karpova para NI People13

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senaiA criação de escolas voltadas para as artes aplicadas na indústria e outras que miraram a formação técnica e, inclusive para a área têxtil e vestuário, surgiram no Brasil a partir de meados do século 19. Sua instalação foi patrocinada pelos próprios setores industriais que, diante da inexistência de mão de obra qualicada para as indústrias emergentes, investiram nesse sonho de crescimento do país. Apesar da nobre motivação, essa formação destinava-se aos mais pobres, criando um estigma social que perdurou muitas décadas. Com a expansão e a popularização do ensino superior no Brasil a partir dos anos 1990, esse universo se transformou e, atualmente, ter uma formação tecnológica, é um diferencial que traz prestígio social e empregabilidade. O surgimento do Senai, assim, faz parte desse mesmo projeto de desenvolvimento industrial, de qualicação prossional e de valorização das pro-ssões tecnológicas. Sua origem nos leva ao ano de 1942, quando, a partir da liderança da Confederação Nacional das Indústrias - CNI, foi criado um novo sistema de ensino prossionalizante. Esse modelo educacional inovador, inicialmente esteve dedicado à formação de operários e, logo a seguir, introduziu o ensino técnico industrial. Em seus anos iniciais, ambos os níveis de ensino tinham o objetivo de que seus egressos se transformassem imediatamente em mão de obra pronta para a indústria, mas, a par-tir dos anos 2000, além de mantê-los, o Senai é re-conhecido pela qualidade de cursos tecnológicos em nível superior (graduação e pós-graduação). Para o Professor Fábio Murcia Marques, coorde-nador dos cursos na área têxtil e vestuário do Senai, a incorporação de novos níveis de ensino tecnológico para o setor “caminha junto com as demandas da in-dústria têxtil e de moda.” Ele explica que “quando o Senai foi concebido, pensava-se na instalação e cres-cimento da indústria brasileira, porém, a moderni-zação de toda a cadeia acabou exigindo prossionais preparados para mudanças contínuas em diferentes camadas de responsabilidade dentro das indústrias, isto é, a operacional, a tática e estratégica.” Em seu entender, “a indústria de moda brasileira vem notan-do que ela precisa de prossionais de nível superior, porém, com perl tecnológico. O consumidor con-temporâneo exige sustentabilidade, qualidade, pro-dutos que gerem satisfação e bem-estar e, portanto, só prossionais possuam competências técnicas e pensamento estratégico conseguem atender a esses desaos e suprir essas necessidades.” A grande competitividade do setor, promovida pela grande quantidade de empresas brasileiras, quanto pela entrada das roupas importadas, vem fazendo com que cada vez mais a visão sistêmica do prossional seja demandada e valorizada pelo mercado. Os cursos do Senai se transformam e se renovam de acordo com o dinamismo da indústria, pois, , salienta o Professor Fábio, “são denidos em conjunto com empresários do setor que tem conhe-cimento técnico e compromisso de boa gestão.” Ele detalha que “o comitê técnico setorial do Senai e as equipes acadêmicas não desenvolvem um curso sem considerar o que a indústria pede: nós a ouvi-mos. É uma aproximação entre os representantes empresarias e acadêmicos.”Professor Fábio Murcia Marques, coordenador dos cursos na área têxtil e vestuário do Senai.14PROFISSIONAL 4.0O SENAI E O ENSINO TECNOLÓGICO NA ÁREA TÊXTIL E MODA

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“A aprendizagem é bem diferente daquela do bacharelado tradicional, pois em nossas ocinas e laboratórios, os estudantes entendem o processo produtivo e a capacitação estratégica – tempo, logística, planejamento e desenvolvimento de coleções etc. -, são vivenciados na prática. Esse é o diferencial do Senai.” - Professor Fábio Murcia Marques

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Estudantes no laboratório de modelagem do Senai E é esse “bom ouvido”, podemos dizer, que ga-rante a qualidade do ensino de perl tecnológico oferecido pelo Senai têxtil e vestuário. Diferente-mente dos cursos de bacharelado mais tradicionais voltados para o ensino da moda, o currículo dos cursos superiores de tecnologia se caracteriza pela prevalência de disciplinas especícas. Os cursos Senai, para o Professor Fabio, oferecem essa ga-rantia: “não somos melhores nem piores que ou-tras instituições - somos diferentes -, oferecendo exatamente o que a indústria precisa porque cami-nhamos lado a lado com ela.” O QUE É A FORMAÇÃO TECNOLÓGICA E COMO ELA ACONTECE? “O Senai tem a concepção do aprender fazen-do,” explica o Professor Fábio. Isso só é possível porque em uma área de 19.000m2, além de salas de aula existe uma infraestrutura atualizadíssima, voltada para a prática. Em modernos laboratórios e ocinas, os conteúdos conceituais tratados em aulas com perl teórico, são testados pelos estu-dantes. “Assim, a aprendizagem é bem diferente daquela do bacharelado tradicional, pois em nos-sas ocinas e laboratórios, os estudantes entendem o processo produtivo e a capacitação estratégica – tempo, logística, planejamento e desenvolvimento de coleções etc. -, são vivenciados na prática. Esse é o diferencial do Senai.” A gestão e a tecnologia, dentro do modelo de 16ensino proposto pelo Senai para a área de moda, caminham juntas e garantem maior competitivi-dade para o setor e sucesso para o empreendimen-to. Sua eciência será medida, por um lado, pelas características formais de um produto, como cai-mento, qualidade do acabamento e do caimento, aderência às tendências e desejos do consumidor e, por outro, pelo domínio da gestão produtiva, que começa no planejamento e gestão dentro da indústria e alcança, também, a chegada do produto na prateleira no momento certo. Para o Professor Fábio, a gestão do processo que vai do produto (na fábrica) à mercadoria (na loja) é elemento chave do negócio e “é a estratégia da empresa”. Mas, sem dúvida, a indústria de hoje não é mais a indústria dos anos 1940 e, portanto, não só os modelos de ensino e conteúdos se atualizaram, mas, também, todo o parque pedagógico do Senai. Falamos hoje da Indústria 4.0, termo cunhado du-rante a Feira de Hannover em 2011 para denir um novo estágio de desenvolvimento industrial, carac-terizado pela combinação da produção seriada e ao mesmo tempo customizada, o que é possível por meio da comunicação não-humana entre as partes, ou seja, pela tecnologia ou internet das coisas. No Senai, explica o Professor Fábio, considera-mos a nova indústria e o novo aluno, que tem à sua disposição uma planta 4.0. “É a única instituição que oferece essa experiência”, onde é possível “produzir uma camiseta por vez sem que nenhum ser humano encoste na peça.” Na sua opinião, essa nova realidade industrial que se apresenta como uma oportunidade

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Ricardo e Vivi Haydude prossionalização altamente atraente para os na-tivos digitais e para aqueles que precisam conhecer essa nova realidade, é um caminho sem volta. Por isso, o modelo de ensino do Senai se consolida e se destaca: a formação é feita entre conteúdos estrutu-rais e as últimas tecnologias em softwares e equipa-mentos e “é exatamente isso que a indústria deman-da”, salienta o Professor Fábio. Assim, o perl dos estudantes do Senai têxtil e vestuário, em quaisquer de seus níveis de ensino ou de cursos livres de capacitação, também se atualizou e está muito distante daquela visão de que o ensino tecnológico é limitador. Os estudantes chegam ao Senai diretamente para o curso superior porque se encantam pela indústria da moda, mas também é composto por empresários e empreendedores que têm lacunas em sua formação técnica e buscam conhecimento focado e dirigido – o mesmo caso de alunos egressos de cursos de moda – e, também, “alunos que se perpetuam porque enxergam que o único caminho para alcançar níveis de responsabilidade dentro da indústria, é por meio do conhecimento,” salienta o Professor Fábio. Aliás, podemos dizer sem medo de errar que essa é uma característica presente no Senai. O pró-prio Professor Fábio, lho de um ex-aluno da es-cola de metalurgia, considera-se um “senaiano” de longa data. Graduado em publicidade e Mestre em Têxtil e Moda pela EACH-USP, onde encontrou inúmeros colegas e professores também egressos do Senai, ele chegou à instituição em 2006 quando conciliava seu trabalho numa importadora de má-quinas de costura com as atividades docentes e de consultoria no Senai. Hoje, como coordenador dos cursos e também, do Instituto Senai de Tecnologia, que oferece consultorias e assessorias para empre-sas do setor, ele aposta na formação contínua, na atualização prossional e tecnológica para os pro-ssionais da indústria da moda. Na nossa indústria, salienta o Professor Fábio, a empregabilidade é diretamente relacionada com a formação, pois, como prossional, o seu produto é o seu trabalho que resulta de sua formação. “Assistir vídeos na internet e realizar leituras é muito bom, mas sem aprendizado não vai acontecer a formação. Mais especialidades serão demandadas e, embora a polivalência seja positiva, a especialização prossional será muito mais valorizada.” Para entrar no mercado, o prossional deve ser mais especialista e, à medida em que ele avança, mais polivalente. “O percurso é lento, mas promissor.”perlREVISTA TÊXTILFoi em 1928, que o Professor José Haydu, fundou a Primeira Escola de Tecelagem em São Paulo, na Rua Piratininga. Depois de trabalhar para as indústrias Votorantim e Matarazzo durante os anos de grande desenvolvimento da indústria têxtil brasileira de ação e tecelagem de algodão, o engenheiro têxtil húngaro (e brasileiro naturalizado) formado em Bergamo, na Itália, fundou sua própria escola têxtil. Seu objetivo era o de prossionalizar a mão de obra das fábricas têxteis brasileiras, formadas por trabalhadores que aprendiam na prática. Entre os inúmeros alunos das tecelagens brasileiras tradicionais (Döhler, Paramount e outras) que passaram pela Primeira Escola de Tecelagem entre os anos de 1928 e 1975, alguns notáveis, como o da Sra. Constanza Pascolato, fundadora da Tecelagem Santaconstancia, também aprenderam lá.

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Edições da Revista Têxtil18O Professor Haydu estabeleceu dois im-portantes marcos para a capacitação tecnoló-gica no setor têxtil brasileiro, um de formação e outro de informação. Na Escola, em geral, eram quatro turmas (ação, tecelagem, tin-turaria e classicação de algodão), atendidas por professores especialistas que ministra-vam aulas teóricas sobre as áreas nas quais os alunos já trabalhavam nas fábricas. Já a Revista Têxtil, que surgiu em 1931 como uma house organ, trazia informações relevantes para a área e era distribuída para os alunos e também para os empresários. Essas infor-mações eram obtidas diretamente pelo Pro-fessor Haydu durante suas visitas às feiras internacionais e, também, por meio da tradu-ção dos materiais que chegavam diretamen-te das fábricas de máquinas e equipamentos europeias. Numa época na qual o Brasil não desenvolvia tecnologias para o setor, a contri-buição de empresas têxteis e de maquinário estrangeiras para a formação de nossa mão de obra foi essencial. A escola, em seus últimos anos, atendeu alunos por correspondência (eram enviadas apostilas pelo correio) até que, com o faleci-mento do Professor Haydu as atividades fo-ram encerradas. A revista, ao contrário, só cresceu e se renovou: Ricardo Haydu, lho do Professor Haydu, seguindo os conselhos de Caio de Alcântara Machado para quem traba-lhava, abriu uma editora e promoveu a Revista “Tecnologia é a fibra, o tecido, sua produção, a sustentabilidade e a economia circular. O consumidor final compra tudo isso, pois ele é muito mais exigente que em outras épocas.”Têxtil nacional e internacionalmente. O principal desao de uma revista com foco em tecnologia é manter-se atualizada e interes-sante para prossionais e empresários, sendo fonte de informação segura e de primeira mão. Ao longo dessas quase cinco décadas, isso foi feito com maestria, por meio de relações esta-belecidas com empresas têxteis, químicas e de maquinários em todo o mundo, para a apura-ção de informações e captação de anúncios. A dedicação ao desenvolvimento do setor têxtil brasileiro que a família Haydu dedicou, é re-conhecida nacional e internacionalmente. São incontáveis os prêmios de reconhecimento por todas as atividades realizadas no Brasil e, no exterior, também foram reconhecidos por te-rem sido a primeira empresa brasileira a ter um stand na Itma, a mais importante feira mundial do setor. A revista não cou imune nem inerte frente às mudanças tecnológicas e de velocidade de in-formação, principalmente depois dos anos 1980. Junto com Ricardo Haydu, Vivi Haydu traba-lhou na modernização da gestão e na articulação de novas ideias, fundamentais para que a Revista Têxtil, órgão ocial da Abit/Sinditêxtil, acompa-nhasse as transformações. Além da digitalização da publicação, um projeto editorial que não se limita a atender os interesses da indústria têxtil somente, mas sim da de confecção. Como arma Vivi Haydu, “atualmente o pessoal de moda via confecção sabe que você só pode fazer um pro-duto muito bom se estiver atento à tecnologia. Tecnologia é a bra, o tecido, sua produção, a sustentabilidade e a economia circular. O consu-midor nal compra tudo isso, pois ele é muito mais exigente que em outras épocas.”

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Podemos armar que ao longo dos anos não houve mudanças signicativas na estrutura dos tecidos, ou seja, eles foram produzidos seguindo a mesma concepção de entrelaçamento entre os os e obedecendo algumas combinações pré-estabelecidas. Durante muito tempo, quando se falava de tecnologia têxtil ou de avanços tecnológicos, nos referíamos à evolução dos maquinários utilizados e aos processos de fabricação. Fibras naturais, COMO TECNOLOGIAS TÊXTEIS FUTURAS AFETARÃO A MODANo imaginário coletivo criou-se a ideia de que as roupas do futuro seriam praticamente como aqueles uniformes espaciais vistos nos lmes de cção, desenhos animados e histórias em quadrinhos. Mas, quando nalmente chegamos a esse futuro, os resultados são diferentes daquilo que havia sido imaginado. Alcançamos níveis de alta performance e funcionalidade e, em alguns casos, voltamos às origens naturais com um toque inovador. No m, não se pode negar que a tecnologia e a moda estão cada vez mais conectadas. Aliás, conexão é a palavra-chave nos tempos atuais. A conectividade, tão valorizada nos smartphones e em outros dispositivos, está cada vez mais inserida no nosso vestuário, constituindo os wearables. Porém, a inovação não está apenas baseada em conectividade e eletrônica: os novos têxteis têm funcionalidades interativas e diversidade de aplicações. As aplicações podem ser novas e/ou melhorias e englobam os produtos têxteis em qualquer etapa produtiva, permitindo que tenham outras funções, indo além do vestuário.Portanto, a inovação têxtil aplicada à moda pode surgir a partir da criação de novas fibras e materiais têxteis com alta performance e funcionalidade ou da funcionalização e mo-dificação desses materiais têxteis já existen-tes. Também é possível inovar por meio da potencialização do design e desenvolvimento de produtos com novos conceitos e tecnolo-gias, tudo isso, usando os meios de fabricação convencionais ou se apropriando dos novos modelos de fabricação. Além disso, os aspec-tos ambientais têm impulsionado a inovação focada em materiais têxteis de base biológica e processamentos têxteis ambientalmente ami-gáveis e sustentáveis. Conheça alguns exem-plos dessas inovações únicas ou que congre-gam duas ou mais frentes tecnológicas.Por: Camilla Borellicomo algodão, linho, lã e seda, eram as únicas opções disponíveis até a criação das bras sintéticas no século 20. Essas bras, devido às suas novas características e propriedades, possibilitaram novos desenvolvimentos e aplicações diferenciadas.especial_tecnologia_têxtilBordado feito com luz LED19

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Os tecidos também podem auxiliar na redução de dores musculares, produção de colágeno e melhoria da circulação, atuando inclusive sobre a aparência da pele e redução dos sinais da celulite. Essa funcionalidade é gerada pela incorporação de minerais capazes de emitir radiação infravermelho.INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUSTENTÁVEIS NOVOS MODELOS DE FABRICAÇÃOImpressão 3DA impressão 3D é o método de prototipagem rápida em que a fabricação de produtos em 3 dimensões ocorre pela deposição de finas camadas de materiais.Indústria 4.0Conceito que envolve muitas tecnologias que servem como alavancas para remodelar a indústria têxtil, tendo como exemplo análise de big data, inteligência artificial, robótica avançada, impressão 3D / manufatura aditiva e IoT.11101011AutolimpantesOs tecidos autolimpantes não permitem que a sujidade tenha aderência com o tecido. Esse tratamento permite a degradação das matérias orgânicas que grudari-am na superfície e reduzem consideravelmente a capacidade de absorver líquidos.07Encapsulamento de cosméticos e fármacosOs tecidos são impregnados com nanocápsulas que liberam gradativamente substâncias ativas com hidratantes, desodorantes, perfumes, repelentes e fármacos específicos para atuação superficial cutânea e curativos especiais.04Proteção UVUma das maneiras de conferir a proteção UV é por meio da incorporaçãode nanopartículas de dióxido de titânio, que auxiliam na proteção do tecido e consequentemente da pele do usuário.05Anti-microbianos e anti-bacterianosTecidos anti-bacterianos atuam no controle da proliferação de bactérias (como os odores proveni-entes do suor) e os antimicrobianos dificultam a proliferação de micro-organismos, como fungos, bactérias e até mesmo vírus. 08Bioestimulação060201Os wearables são dispositivos eletrônicos que podem ser vestidos, como relógios, óculos, sapatos e roupas. Quando surgem da fusão entre as tecnologias dos materiais têxtil, da eletrônica e da microeletrônica, podem ser chamados simplesmente de e-textiles.Wereables e e-textiles01Fibras sustentáveis e biodegradáveisFibras sustentáveis e biodegradáveis são aquelas que atendem as demandas e leis ambientais, provenientes de fontes renováveis, que tenham processos sustentáveis ou que se degradam no ambiente reduzindo os impactos ambientais.02Têxteis e acessórios recicladosTêxteis e acessórios reciclados são matérias-primas provenientes de outros materiais, têxteis ou não, que passaram por um processo de reciclagem. 03INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUSTENTÁVEISAs inovações têxteis atuais se destacam pela união de conceitos de potencialização do design e fusão de distintas tecnologias, como por exemplo a junção de têxteis e eletrônicos. A preocupação em relação aos problemas ambientais e sustentáveis é uma tendência fortíssima guiada pela indústria da moda.NOVOS MODELOS DE FABRICAÇÃOAlém das roupas e outros produtos, o futuro da moda também está pautado em novos processos produtivos. A existência de grandes indústrias pode não se sustentar do mesmo modo como conhecemos nos modelos atuais. A demanda por produtos personalizados e customizados e as dificuldades logísticas abre possibilidade par esses novos modelos de fabricação. GrafenoO grafeno é um material que apresenta propriedades altamente funcionais e que, quando aplicado ao têxteis, transfere essas funcionali-dades garantindo um excelente desempenho.090604090508FUNCIONALIZAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE MATERIAIS TÊXTEIS JÁ EXISTENTESABCEssas melhorias são conferidas aos fios, tecidos e até peças confeccionadas e não necessariamente podem ser vistas a olho nu, mas fazem toda a diferença na performance dos têxteis. Podem atribuir-lhes características especiais, normal-mente usadas para aplicações específicas que desempenham funções além das convencionais.Muitas dessas funcionalizações são alcançadas por processos nanotecnológicos, nos quais muitas características específicas podem ser adicionadas aos tecidos: por exemplo, ação bacte-ricida, ação de cosméticos (hidratante, desodor-izantes), comportamento anti-umidade e secagem rápida, repelência a insetos, proteção UV, entre outras. Estas características são obtidas sem comprometer outras propriedades do material como a textura e o toque.FUNCIONALIZAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE MATERIAIS TÊXTEIS JÁ EXISTENTES0307TECNOLOGIAS TÊXTEIS DO FUTUROPor Camilla Borelli

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Os tecidos também podem auxiliar na redução de dores musculares, produção de colágeno e melhoria da circulação, atuando inclusive sobre a aparência da pele e redução dos sinais da celulite. Essa funcionalidade é gerada pela incorporação de minerais capazes de emitir radiação infravermelho.INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUSTENTÁVEIS NOVOS MODELOS DE FABRICAÇÃOImpressão 3DA impressão 3D é o método de prototipagem rápida em que a fabricação de produtos em 3 dimensões ocorre pela deposição de finas camadas de materiais.Indústria 4.0Conceito que envolve muitas tecnologias que servem como alavancas para remodelar a indústria têxtil, tendo como exemplo análise de big data, inteligência artificial, robótica avançada, impressão 3D / manufatura aditiva e IoT.11101011AutolimpantesOs tecidos autolimpantes não permitem que a sujidade tenha aderência com o tecido. Esse tratamento permite a degradação das matérias orgânicas que grudari-am na superfície e reduzem consideravelmente a capacidade de absorver líquidos.07Encapsulamento de cosméticos e fármacosOs tecidos são impregnados com nanocápsulas que liberam gradativamente substâncias ativas com hidratantes, desodorantes, perfumes, repelentes e fármacos específicos para atuação superficial cutânea e curativos especiais.04Proteção UVUma das maneiras de conferir a proteção UV é por meio da incorporaçãode nanopartículas de dióxido de titânio, que auxiliam na proteção do tecido e consequentemente da pele do usuário.05Anti-microbianos e anti-bacterianosTecidos anti-bacterianos atuam no controle da proliferação de bactérias (como os odores proveni-entes do suor) e os antimicrobianos dificultam a proliferação de micro-organismos, como fungos, bactérias e até mesmo vírus. 08Bioestimulação060201Os wearables são dispositivos eletrônicos que podem ser vestidos, como relógios, óculos, sapatos e roupas. Quando surgem da fusão entre as tecnologias dos materiais têxtil, da eletrônica e da microeletrônica, podem ser chamados simplesmente de e-textiles.Wereables e e-textiles01Fibras sustentáveis e biodegradáveisFibras sustentáveis e biodegradáveis são aquelas que atendem as demandas e leis ambientais, provenientes de fontes renováveis, que tenham processos sustentáveis ou que se degradam no ambiente reduzindo os impactos ambientais.02Têxteis e acessórios recicladosTêxteis e acessórios reciclados são matérias-primas provenientes de outros materiais, têxteis ou não, que passaram por um processo de reciclagem. 03INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUSTENTÁVEISAs inovações têxteis atuais se destacam pela união de conceitos de potencialização do design e fusão de distintas tecnologias, como por exemplo a junção de têxteis e eletrônicos. A preocupação em relação aos problemas ambientais e sustentáveis é uma tendência fortíssima guiada pela indústria da moda.NOVOS MODELOS DE FABRICAÇÃOAlém das roupas e outros produtos, o futuro da moda também está pautado em novos processos produtivos. A existência de grandes indústrias pode não se sustentar do mesmo modo como conhecemos nos modelos atuais. A demanda por produtos personalizados e customizados e as dificuldades logísticas abre possibilidade par esses novos modelos de fabricação. GrafenoO grafeno é um material que apresenta propriedades altamente funcionais e que, quando aplicado ao têxteis, transfere essas funcionali-dades garantindo um excelente desempenho.090604090508FUNCIONALIZAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE MATERIAIS TÊXTEIS JÁ EXISTENTESABCEssas melhorias são conferidas aos fios, tecidos e até peças confeccionadas e não necessariamente podem ser vistas a olho nu, mas fazem toda a diferença na performance dos têxteis. Podem atribuir-lhes características especiais, normal-mente usadas para aplicações específicas que desempenham funções além das convencionais.Muitas dessas funcionalizações são alcançadas por processos nanotecnológicos, nos quais muitas características específicas podem ser adicionadas aos tecidos: por exemplo, ação bacte-ricida, ação de cosméticos (hidratante, desodor-izantes), comportamento anti-umidade e secagem rápida, repelência a insetos, proteção UV, entre outras. Estas características são obtidas sem comprometer outras propriedades do material como a textura e o toque.FUNCIONALIZAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE MATERIAIS TÊXTEIS JÁ EXISTENTES0307TECNOLOGIAS TÊXTEIS DO FUTUROPor Camilla Borelli

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1- WEARABLES E E-TEXTILESCom a evolução signicativa da tecnologia, podemos esperar que os aplicativos portáteis se tornem uma parte essencial do nosso cotidiano em breve. No caso das roupas e acessórios eletrônicos têxteis que possuem a capacidade de sentir e reagir a estímulos externos, essa funcionalidade só é possível devido ao conjunto do material com computadores e/ou tecnologias avançadas e funcionam de acordo com essa sequência de passos: sensorização, processamento de dados, atuação, armazenamento e integração.Os componentes e sensores eletrônicos integrados aos têxteis têm o objetivo de facilitar a vida do ser humano e não servem apenas para captar dados (como checar a temperatura corporal), mas também reagir de maneira ativa (como regular a temperatura do usuário). No caso da avaliação da frequência cardíaca, o dispositivo poderia enviar uma mensagem ao médico com relatórios frequentes ou emitindo alertas.As aplicações desses wearables são diversicadas. Podemos produzir jaquetas com comandos de um celular acoplado simplicando a vida diária ou é possível criar peças que brilhem (bra ótica) ou transmitam frases interagindo com outras pessoas. As peças também podem reagir aos estímulos sonoros ou táteis, como camisetas que vibram no ritmo dos sons captados ao redor ou que podem transmitir a sensação de um abraço virtual, por exemplo. Essas aplicações podem inclusive se fundir com o mundo dos games.Pensando na performance esportiva – acompanhamento detalhado da performance do atleta e seus principais sinais vitais - , alguns artigos têxteis são acrescidos de sensores que coletam e analisam os dados recebidos, e os enviam imediatamente via Bluetooth para um aplicativo em seu smartphone.Ainda existe uma série de desaos a superar, como a melhoraria do toque, o caimento e o conforto ao usuário. Além desses desaos, os componentes presentes nos e-textiles precisam ser modicados (miniaturizados) para se adequarem às características de cada tecido e também facilitar a manutenção caseira por parte dos usuários.2- FIBRAS SUSTENTÁVEIS E BIODEGRADÁVEIS:A preocupação com o ciclo de vida e a sustentabilidade dos produtos têxteis é crescente. Sabe-se que são inúmeros aspectos envolvidos nessas questões ambientais, envolvendo melhorias nos processos, diminuição do uso da água e utilização de materiais naturais e biodegradáveis. Entre esses, destacam-se as bras naturais de diversas origens, como bras de quitosana, da soja, do leite, do café e do abacaxi.Também surgem as novas bras sintéticas biodegradáveis, como por exemplo a poliamida (nylon) que se degrada rapidamente quando descartada em aterros sanitários.3- TÊXTEIS E ACESSÓRIOS RECICLADOSA reciclagem de alguns materiais para servirem como matéria-prima de roupas e acessórios já é uma realidade. Um exemplo conhecido é o da utilização de garrafas PET para confecção de camisetas e outras peças de vestuário. Além disso, já foram desenvolvidas diversas bras têxteis recicladas a partir de outros materiais têxteis naturais ou sintéticos ou até mesmo provenientes de materiais aplicados em outras áreas industriais.Uma inovação nesse sentido foi desenvolvida por uma grande empresa de artigos esportivos, em que resgataram os dejetos plásticos dos oceanos – cada vez mais impactados pelos resíduos plásticos - e os transformam em tênis por meio da tecnologia de impressão em 3D.4- ENCAPSULAMENTO DE COSMÉTICOS E FÁRMACOS:Os tecidos são impregnados com nanocápsulas que liberam gradativamente substâncias ativas com hidratantes, desodorantes, perfumes, repelentes e alguns fármacos especícos para atuação supercial cutânea e curativos especiais.INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUSTENTÁVEIS FUNCIONALIZAÇÃO E MODIFICAÇÃO DE MATERIAIS TÊXTEIS JÁ EXISTENTES22

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10 - INDÚSTRIA 4.0A demanda surge a partir do consumidor e a indústria 4.0 está focada na experiência do usuário, ou seja, o usuário escolhe as cores, as estampas e o design da peça que será produzida sob demanda.Entre os impactos mais relevantes, destacam-se a maior agilidade, exibilidade, menor escala produtiva e personalização de produtos, sem contar a expressiva diminuição dos impactos ambientais. Como impacto social, há uma preocupação no perl da mão-de-obra com visão multidisciplinar e atuante nas estratégias e não apenas na fabricação de produtos.11- IMPRESSÃO 3DEsse novo processo de manufatura revolucionou a produção de inúmeros tipos de produtos, inclusive roupas e acessórios. Pode ser utilizado industrialmente, inserido no conceito de indústria 4.0, mas pode ser uma alternativa promissora no movimento DYI (Do It Yourself). Com acesso facilitado a essas impressoras, o consumidor seria o próprio criador e fabricante, garantindo a originalidade e exclusividade das peças. Novos polímeros exíveis e biopolímeros são matérias-primas ideais para alcançar a vantagem criativa da impressão 3D e o desempenho esperado.5- PROTEÇÃO UVUma das maneiras de conferir a proteção UV é por meio da incorporação de nanopartículas de dióxido de titânio, que auxiliam na proteção do tecido e consequentemente da pele do usuário.6- BIOESTIMULAÇÃOOs tecidos também podem auxiliar na redução de dores musculares, produção de colágeno e melhoria da circulação, atuando inclusive sobre a aparência da pele e redução dos sinais da celulite. Essa funcionalidade é gerada pela incorporação de minerais capazes de emitir radiação infravermelho.7 - AUTOLIMPANTESOs tecidos autolimpantes se caracterizam por não permitirem que a sujidade tenha aderência com o tecido. Esse tratamento permite a degradação das matérias orgânicas que grudariam na superfície e reduzem consideravelmente a capacidade de absorver líquidos.8- ANTIMICROBIANOS E ANTIBACTERIANOSNo caso especíco dos tecidos anti-virais, o objetivo desse acabamento químico é inativar a ação de vírus. Recentemente, têm sido produzidas muitas máscaras de proteção com propriedades anti-virais, porém, sem interferir na respiração ou causar alguma irritação na pele. Esse acabamento pode se estender para todos os têxteis odonto-médico-hospitalares (aventais, jalecos, toucas) ou até mesmo o vestuário comum como camisetas e roupas esportivas.Na maioria dos casos aplicam-se nanopar-tículas de prata, porém, algumas empresas de-senvolveram acabamentos isentos de prata de-vido à incerteza em relação a efeitos adversos, pois, tratando-se de partículas em escala nano-métricas, poderiam atravessar os poros da pele e chegar à corrente sanguínea.A aplicação desses acabamento pode ser supercial ou as nanopartículas podem ser incorporadas à matriz polimérica das bras sintéticas, garantindo uma maior durabilidade. Nos casos de acabamentos superciais, o atrito gerado pelo uso e principalmente pela ação das sucessivas lavagens, causa perda da eciência do acabamento, devido ao desprendimento do produto que estava ancorado nas bras têxteis.NOVOS MODELOS DE FABRICAÇÃO9 - GRAFEN0A aplicação do grafeno aos têxteis, pode conferir-lhes propriedades condutoras, efeitos antibacterianos e antivirais, além da maior resistência mecânica. Os resultados podem ser: peças de roupas que mudam de cor, bras têxteis muito mais resistentes, camisetas que com sensores minúsculos para monitorar os sinais vitais ou até substituir o aparelho de celular, jaquetas termo reguladoras.23

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Unsatisfashion n.26.550 leitores únicosmédia semanal de 250 acessos SUA EMPRESA PODE ESTAR AQUISAIBA COMO PATROCINAR

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DIGITALIZAÇÃO DA MODAShowroom digital na Première Vision com o objetivo de promover os fornecedores de Portugal2525cultura_de_modaEm fevereiro de 2020, estivemos presencialmente na Première Vision Paris, quando era impossível não notar a ausência de prossionais vindos da China. Alguns stands de empresas asiáticas, colocavam pequenos avisos tímidos na entrada, dizendo “aqui você estará seguro”, querendo indicar, claramente, que não eram chineses. Ao mesmo tempo, nas semanas seguintes, Milão já se transformaria totalmente durante a Fashion Week. O Fashion Hub Market, evento paralelo que promove designers internacionais e tem uma parceria com a China, já não contava com a presença deles, que eram substituídos por painéis digitais e a frase “estamos com vocês”. O vírus que, acreditava-se, estava restrito à província de Wuhan, logo apareceria na Itália e traria seu primeiro e inesquecível grande efeito nas passarelas milanesas: o desle de Giorgio Armani já foi realizado com portas fechadas e, naquela semana, entraríamos em lockdown. Até o mês de março de 2020, nos parecia impossível que a moda desmontasse um de seus maiores pilares que a fazem funcionar: os eventos presenciais. Em cada uma das semanas presenciais que não existe, Milão deixa de faturar aproximadamente 30 milhões de euros segundo Carlo Capasa, presidente da Camera Nazionale della Moda Italiana. Atualmente, em novas condições, estima-se o faturamento de apenas 20% desse montante. Mas o fato é que, aos poucos, tradicionais feiras e eventos em todo o mundo foram desistindo de suas versões físicas e adotando versões digitais e híbridas. As marcas de moda tiveram que se reinventar, os negócios de eventos foram obrigados a se digitalizar e as capitais da moda, por m, aceitaram as perdas decorrentes da falta de todo o movimento e glamour que envolve esses eventos e criaram alternativas para manter seu protagonismo. Entra-se na era da cultura de moda digital que, longe de se limitar à digitalização dos processos produtivos ou ao e-commerce, torna-se o lugar de encontro e de relacionamento de marcas, criadores,

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Divulgação para a primeira Fashion Week digital em Milão26poderia vender a informação adquirida nas feiras ou poderia guardá-la para seu negócio por algum tempo. Catálogos, conferências e plenárias poderiam ser fechadas a fornecedores ou a compradores que pagavam adicionais para receber informações. Hoje, na batalha digital pela audiência, os organizadores tentam criar muito conteúdo paralelo com a ajuda de seus expositores, fazendo com que eles dialoguem com um público maior e interessado apenas em conteúdo gratuito, democratizando esse conhecimento tão especializado. Apesar da abertura desse novo mundo, já é no-tável a tentativa de retomar as feiras presenciais, sempre com a devida cautela para não colocar todo o esforço deste último ano a perder. A expectativa é grande, as datas são incertas, mas o que todos são unânimes é que o formato digital, pelo menos por um longo tempo, será sempre uma opção. Future Fabrics Expo é um bom exemplo dessa nova realidade. Prevendo a conrmação de uma versão presencial ainda em 2021, os organizadores anunciam novo cronograma, com três datas (mar-ço, junho e outubro) digitais e físico-digitais. Abrem essa experiência não só aos compradores, mas também a um público mais amplo, principalmente formado por prossionais em formação e seus pro-fessores e instituições. Enquanto os eventos físicos tendem a ser mais controlados e restritos para obe-decer a normas sanitárias – e, segundo os especia-listas, bem mais efetivos e seletivos, devido ao nú-mero menor de visitantes –, os digitais, poderão ter um alcance muito maior.imprensa e público. Criaram-se novas dinâmicas e com elas, novas oportunidades de trabalho dentro do que chamamos de transformação digital. Embora a maioria das pessoas esteja mais aten-ta às mudanças nos desles devido ao seu apelo mi-diático, é nas feiras de negócios que encontramos uma mudança profunda e radical. A partir dos anos 1950 que as trade fairs se tornaram um ponto alto do mundo da moda e, mais recentemente, um assun-to da mídia mundial que deixou de estar restrito aos prossionais envolvidos. As feiras fazem parte das vantagens do trabalho no setor da moda. Para criadores e demais pros-sionais, sempre foi interessante viajar e estar em contato com todos os benefícios que vinham no pa-cote das feiras têxteis, de maquinário, de produtos e outras tantas. Os negócios eram fechados cara a cara e ir às feiras, mesmo para quem não compraria nada, era um lugar de “fazer pesquisa”. Visitar ou expor, sempre signicou ocupar um lugar de desta-que nesse mundo prossional, pois trata-se de um investimento importante, que comprova a posição privilegiada de uma empresa e de seus funcionários. Neste momento, podemos dizer com poucas chances de errar que, embora feiras tradicionais já anunciem suas novas edições pelo menos em formato híbrido (presencial e digital), algumas mudanças vieram pra car. Em parte, isso se deve às incertezas, mas não podemos negar que a transformação digital não voltará atrás. A realidade, contudo, é um pouco contraditória: pesquisa realizada pelo Business of Fashion aponta que embora 70% dos compradores armem que preferem as compras presenciais de seus suprimentos têxteis, a maioria deles diz que não precisa das feiras para fazer negócios. Isso indica que as plataformas digitais que vêm sendo desenvolvidas com essa nalidade exclusiva são cada vez mais ecientes. No último ano, o crescimento e a difusão do showroom digital foi gigantesco. Empresas de tecno-logia, além de criar a simulação e cenários, desenvol-vem soluções para facilitar as operações dependentes (as vídeo-chamadas para tirar dúvidas e fechar os ne-gócios) e autônomas (olhar as coleções e produtos e as transações nanceiras) entre compradores e ven-dedores. Essa realidade, não só questiona a sobre-vivência das feiras, mas também abre brechas para o m da sazonalidade ou uma nova temporalidade. É um caminho provável, pois nessas plataformas, os negócios podem estar abertos o ano inteiro e não mais em datas especícas limitadas a um calendário de eventos que conectava pavilhões, hotelaria e toda uma outra rede de eventos paralelos. Outra novidade trazida por esse formato é a real democratização da informação. Antes, quem viajava,

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Divulgação para a primeira Fashion Week digital em Milão27fashion_capitalComo muitas coisas na indústria da moda, as feiras de moda têm uma aura especial. São tidas como paradas obrigatórias para os prossionais do setor, mas, para muitos, é ainda um mistério a razão pela qual elas são tão importantes e necessárias no processo criativo.Mas o que é uma feira de moda e para que serve?UMA IMERSÃO NA PREMIÈRE VISIONPARISPor: Sandra Mathey García-Rada, de Culturas de Moda

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2828As feiras de moda são locais de promoção e venda de materiais e produtos, muitas vezes especializadas em determinados setores. Ou seja, dentro das feiras de moda, há feiras de tecidos e acessórios, couros e peles, moda infantil, moda masculina e muitas outras. Na maioria dos casos, elas são agendadas duas vezes ao ano, seguindo as estações do calendário internacional da moda: outono/inverno e primavera/ verão. Na era pré-COVID, essas feiras reuniam em um só lugar prossionais de todo o mundo que precisavam conhecer as últimas novidades, trocar ideias sobre o futuro do seu setor e absorver as tendências que começariam a ser visíveis nos próximos meses. E embora isso pareça um fenômeno da vida contemporânea, na realidade, as feiras existem, de uma forma ou de outra, há séculos.Conta-se que os bazares do Oriente Médio, por volta de 3000 a.C. foram as primeiras feiras, já que a intenção dos produtores locais era vender seus produtos aos viajantes. Mas, embora de certa for-ma se assemelhassem às feiras atuais, o formato das feiras modernas surgiu na época medieval e somente no século 19 atingiram seu auge. O ano de 1851 marcou esta grande mudança de perspectiva com a realização da primeira Exposição Universal, que é reconhecida como a primeira feira ocial da história. A primeira edição da Exposição Universal aconteceu em Londres e, a partir desse momento, estas exposições caracterizaram-se por apresentar os avanços tecnológicos de todo o mundo, incluin-do, entre outros, maquinaria, produtos diversos e matérias-primas. Algo muito interessante e impor-tante a destacar aqui, é que foi nessa época que se começou a falar de países de primeiro mundo, e as inovações apresentadas nessas exposições foram uma parte crucial desta denominação.No nal do século 19, as feiras (ainda conheci-das como exposições e realizadas com intervalos de alguns anos) ganharam mais força e importân-cia. Continuaram a crescer continuamente até que, em meados do século 20, já existiam calendários anuais de feiras especializadas em todo o mundo. Para a moda, uma das que foram criadas nesse pe-ríodo foi a Première Vision, que acabou tornando--se a feira têxtil mais importante do mundo.Première Vision foi estabelecida em 1973 por quinze empresários têxteis de Lyon na França. Com uma atitude bastante visionária para a época, pretendiam criar um espaço especializado em têxteis onde eles pudessem vender seus produtos para pessoas de todo o mundo. No nal da mesma Pesquisa de materiais na Premiere Vision.década, passaram a incluir empresas de toda a França e, pouco depois, da União Europeia. Quando chegamos aos anos 1990, a Première Vision se abriu para todo o mundo e conseguiu se posicionar como a maior feira têxtil do setor de moda, papel de destaque que mantém até hoje. Assim, o que começou como uma feira de exportação acabou se tornando uma feira para conectar prossionais da indústria global da moda e é precisamente isso que mantém a Première Vision na vanguarda. Atualmente, o papel da Première Vision na indústria global da moda é promover o comércio, o networking e os negócios entre prossionais de diferentes partes do mundo, conectando as pessoas certas independentemente de sua origem para disseminar conhecimento atualizado. Este último ponto é um dos mais importantes, pois, além de ser reconhecido pelo alto nível de fornecedores, a Première Vision é um centro de análise de tendências. Ao contrário das semanas de moda, na Première Vision as informações são apresentadas com cerca de 18 meses de antecedência.A Première Vision também se destaca entre ou-tras feiras porque possui uma área especializada em tendências. Sua equipe se dedica a analisar as propostas dos expositores, os produtos e materiais mais inovadores, juntamente com os vários even-tos de todo o mundo para propor os conceitos que nortearão o setor nas próximas temporadas. Isso

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29signica que a análise de tendências realizada na Première Vision não se baseia simplesmente na observação de novos produtos ou coleções, tratan-do-se de uma análise sociocultural. Por isso mes-mo, a inspiração muitas vezes é muito mais con-ceitual e por isso é fundamental iniciar o processo criativo desde o básico: os tecidos. Como feira têxtil, um dos pontos mais impor-tantes da Première Vision há alguns anos é a sus-tentabilidade. A feira promove a reexão sobre esse tema desde o início do processo produtivo e, há vá-rios anos, os organizadores têm se comprometido com essa mudança. Uma das maneiras de fazer isso é destacando as práticas sustentáveis dos seus ex-positores, mas uma parte crucial para gerar mudan-ças são as conferências que eles oferecem. E esse é mais um dos pontos-chave da feira: a disseminação do conhecimento de qualidade. Ao longo dos anos, Première Vision recebeu prossionais de várias áreas para garantir que oferece perspectivas varia-das e valiosas para seu amplo público. Parte dessas conferências também inclui prossionais da área de tendências, complementando assim as informações prestadas por sua própria equipe. Antes da pandemia, essas conferências eram as-sistidas exclusivamente por participantes da feira, porém, agora estão praticamente abertas ao públi-co e atingem muitas mais pessoas. E isso, claro, nos leva ao último ponto, que é a digitalização da feira. Em 2018, Première Vision lançou um marketplace, que é um espaço digital complementar para que seus clientes possam estar em contato permanente com os expositores da feira. A ideia inicial era a de que os clientes não precisassem esperar até a próxima edição para saber das novidades. Porém, o que foi projetado como um extra, acabou sendo um teste para a adaptação do Première Vision ao Covid-19 em 2020. Atualmente, o Première Vision Marketplace é parte fundamental dessa mudança, mas, além disso, foi adicionada uma versão digitalizada adicional que às edições anteriores que eram só presenciais. Durante os dias de feira, este espaço substitui a interação constante de uma visita presencial, por meio de nossos dispositivos. Esta é uma opção fantástica em um momento em que é impossível viajar e negociar cara a cara, já que a Première Vision e seus expositores foram capazes de se adaptar e de fornecer um sistema de pedidos de amostras que, embora não substitua a interação pessoal, é um exemplo de que é possível se adaptar a esta nova realidade. COMO VISITAR A PREMIÈRE VISION1. Considere o propósito da visita. Estamos coletando informações e observando inovações, encontrando novos materiais para nossas coleções ou conhecendo novos fornecedores?2.Com isso em mente, analise a lista de expositores e selecione aqueles com os quais você tem interesse em se encontrar. São cerca de 2.000 expositores e por isso é fundamental fazer essa seleção. 3. Veja o programa de palestras, selecione e se inscreva nas mais interessantes para poder planejar seus dias de feira.4. Ao chegar na feira, reserve algumas horas para se dedicar à área de pesquisa de tendências e analisar sua adequação à marca ou às novas coleções que você tem em mente. Você verá várias tendências, mas não é por isso que devemos utilizá-las 100%. Conhecendo a identidade das marcas de seus clientes, recolha as informações necessárias, faça a seleção adequada e visite potenciais fornecedores. No caso da feira digital, a visita deve ser planejada da mesma forma. Sandra Mathey Garcia-Rada é especialista em trend forecasting e co-diretora de Culturas de Moda. Peruana de origem e radicada em Paris, após trabalhar para o mercado de luxo em Lima e em Nova Iorque, realizou um Master em Estudos da Moda na Parsons Paris, onde atualmente também leciona.

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COMPRAR É UMA FESTAEm maio do ano passado, a chinesa Huáng Wēi de 34 anos ligou a câmera do seu celular e rapidamente reuniu uma audiência maior que as nais dos seriados Breaking Bad, Game of Thrones e The Bachelor combinadas. Ao todo, 37 milhões de chineses assistiram à live da inuenciadora digital naquela noite. Aliás, todos os números que rodeiam Viya, o nome artístico de Wēi, são superlativos. Ela é capaz de vender em um dia o mesmo que a fabricante de carros inglesa Aston Martin vende em um ano inteiro. Viya é a rainha do live commerce na China, modalidade de comércio digital que borrou as fronteiras entre rede social, inuenciadores, streaming, entretenimento e compras. Nada representa mais a cara de como faremos compras no futuro que o live commerce. A moda-lidade de comércio surgiu com a ideia singela de realizar vendas ao vivo, mas rapidamente trans-formou-se em algo muito maior. Engana-se quem pensa que o live commerce seria uma roupagem moderna de um televendas à la Teleshop, que po-pularizou no Brasil itens como os óculos Ambervi-sion e as implacáveis Facas Ginsu nos longínquos fashion_businessanos 1990 (aos mais jovens, é altamente recomen-dada uma visita ao YouTube para conhecer os len-dários comerciais desses produtos). Se no passado as televendas ofereciam prati-cidade a um consumidor ainda pouco digitaliza-do, o live commerce adicionou itens poderosos à equação, como inuenciadores digitais, descon-tos exclusivos e conteúdo que efetivamente gera valor para o comprador, como tutoriais e dicas de uso do produto. O televendas é a TV tradicional, o live commerce é o Netix. Do ponto de vista do negócio, aproximar a venda do conceito de entre-tenimento é o grande diferencial do live commer-ce. Em uma famosa transmissão, Viya divertiu-se ao vivo enquanto comia atabalhoadamente um bolinho de baunilha. Resultado: 1.000 bolinhos vendidos em um segundo. “Não existe nenhuma fricção entre diversão e compra, o que é algo mui-to poderoso”, comenta Helen Hu, representante da Procter & Gamble na China. O live commerce já exionava seus músculos com vigor na virada de 2019 para 2020, mas a pandemia do Covid-19 anabolizou denitivamen-te o processo. De uma hora para outra, leiras e leiras de entediados consumidores chineses, ao se verem trancaados em casa, passaram a sin-tonizar seus celulares nas transmissões ao vivo que misturavam entretenimento, informação e, claro, vendas. Inuenciadores digitais como Viya anunciavam descontos exclusivos que duravam apenas alguns minutos (ou até o nal dos esto-ques), tutoriais de maquiagem ao vivo ensinavam os truques certeiros para a make do momento e marcas gigantes do mundo ocidental rapidamen-te se acotovelavam para conquistar um pedaço da atenção dos consumidores. Em um ano, as ven-das realizadas com live commerce no país salta-ram 2.220%, atingindo a marca de 66 bilhões de dólares, segundo o site especializado Statista - a projeção para o próximo ano é dobrar essa ci-fra, estimativa considerada modesta para alguns especialistas. Gigantes como Taobao, Alibaba e JD.com se preparam para a chamada próxi-ma onda do live commerce, testando novidades Na foto acima, Viya no canal de live commerce do site de compras TaoBaoCOMO A NETFLIXAÇÃO DO ECOMMERCE VAI MUDAR A MANEIRA COMO COMPRAMOS E NOS RELACIONAMOS COM AS MARCAS30Por: Gabriel Falcione

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No universo da moda, as iniciativas de live commerce variam. Marcas nativamente digitais como a NTWRK exploram as transmissões ao vivo em seu aplicativo, convidando músicos para shows e apresentando lançamentos. A Monki, marca do grupo H&M voltado para o público jovem, tem produzido shows em que propõe curadoria de moda, convidando especialistas para falar sobre as tendências e promovendo desles com algumas linhas da empresa. Já a italiana Gucci seguiu o caminho da Dengo. Com o Gucci Live, o cliente pode agendar uma visita virtual ao vivo em uma das lojas da marca; o vendedor mostra a coleção, tira as principais dúvidas e ajuda no fechamento da compra no próprio site. O Grupo Soma, que reúne marcas como Farm, Animale, Maria Filó e Cris Barros, realizou 17 lives no ano passado por meio da sua plataforma Lojix. Ao todo, 5,5 milhões de reais foram movimentados com as vendas durante as lives no último trimestre do ano passado, cifra 223% superior àquela registrada em 2019. Os exemplos devem abundar nos próximos anos, com a entrada maciça de novos players na complexa teia do live commerce, como aplicativos e redes sociais - TikTok, Facebook e Instagram, alias, já saíram na frente e oferecem recursos nativos para live commerce. “Dentro de cinco anos, se você não zer live streaming, sua empresa vai car para trás e desaparecer”, sentencia Mark Yuan, fundador da consultoria And Luxe, especializada em orientar empresas ocidentais a adotar estratégias de live commerce. “Hoje, se você tem um negócio, você tem um site. No futuro, se você trabalha com comércio, você fará live streaming.” COMPRAR É UMA FESTA“O live commerce é uma evolução da relação do consumidor com as marcas. O consumidor se sente mais próximo de uma marca quando interage ao vivo com ela, seja por meio de uma consultoria exclusiva de vendas, seja em uma transmissão com um inuenciador que mostra, em primeira mão, um produto novo.”- Fabrizio CascianelliCanal de live commerce da marca de roupas Monkicomo Realidade Aumentada e Realidade Virtual nas suas transmissões. Fora da China, o mundo começa a se movi-mentar também. Lançado de maneira tímida em 2019, o Amazon Live tem se transformado rapi-damente em um canal de vendas relevante para a gigante do comércio mundial. Grandes marcas, como a japonesa Mitsubishi, já zeram lançamen-tos exclusivos na plataforma de live commerce e inuenciadores como a atriz Jessica Alba foram contratados como brand ambassadors do projeto. Outras marcas preferem explorar o concei-to de proximidade do live commerce. No Brasil, a fabricante de chocolates Dengo aproveitou os shoppings fechados por conta da pandemia para criar uma experiência exclusiva para os clientes. Ao navegar no site da empresa, os compradores podem clicar em um botão que os transportarão a uma consultoria exclusiva - e ao vivo, é claro - com um vendedor da loja, que poderá apresentar os produtos, mostrá-los com riqueza de detalhes e falar sobre seus ingredientes. O pedido chega em até uma hora na casa do consumidor. Depois que as lojas físicas foram fechadas, o e-commerce teve um aumento de mais de 1000% em pedidos por dia. Segundo Fabrizio Cascianelli, diretor de vendas da VTEX, plataforma de comércio digital brasileira que oferece a tecnologia por trás da solução da Dengo Chocolates e de mar-cas como C&A, Grupo Soma, Unilever, Sony, Walmart, Coca-Cola, Pizza Hut e Nestlé:31

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A tecnologia blockchain pode ser usada em qualquer setor, mas, no âmbito da moda, ela tem grandes desaos a superar, principalmente devido à extensão à da fragmentação da cadeia. Segundo a Textile Genesis, se comparamos a indústria da moda com a indústria automobilística e de eletrônicos, a necessidade de investir na transparência salta aos olhos. Enquanto as dez marcas de moda mais importantes no mundo ocupam apenas 10% do mercado global, os outros 90% do mercado é ocupado por milhares de empresas de diferentes portes e recursos. Nos outros dois setores, com cadeias mais conhecidas e controladas, um número reduzido de empresas grandes alcança quase todo o mercado. Ainda, embora saibamos que o setor automobilístico e o de eletrônicos são gigantes, o setor têxtil e moda em termos de alcance e faturamento é bem maior que os outros dois. Quanto mais fragmentado um setor, mais ele precisa de transparência e mais difícil é consegui-la. Qualquer roupa que vestimos passou por mais de uma dezena de processos, empresas, meios de transporte etc. Como garantir que aquilo que estou comprando é realmente aquilo que as marcas dizem na sua comunicação? Estima-se que uma parcela signicativa das roupas identicadas como tendo sido produzidas com bras sustentáveis, na verdade não o foram. Por que? Alguns estudos revelam que não há produção suciente de bras sustentáveis para cobrir as mercadorias anunciadas com esse atributo.BLOCKCHAINfuturo_modaSala de auditoria da Saga Furs, onde a empresa monitora a cadeia de fornecimento e fornece rastreabilidade32

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Assim, para o especialista Dr. Victor, “na indústria têxtil e da moda, a tecnologia blockchain poderia ser utilizada para melhorar a rastreabilidade dos produtos nais, melhorando a identicação dos materiais utilizados e sua procedência.” Mesmo que para as empresas maiores ainda possa ser considerada um “modelo teórico”, nas start-ups e empresas menores a sensação é oposta para Walfredo della Gherardesca, CEO da Genuine Way. Ele arma que a inovação “caminha junto da transparência” ambas atendem a um consumidor cada vez mais exigente em termos de informação sobre o produto que está adquirindo. Com inúmeros benefícios para o consumidor, segundo Tai da Retraced, enfrenta-se resistência por parte dos produtores e varejistas. Ele explica que “os grandes desaos envolvem entender a tecnologia e tentar convencer o setor manufatureiro e seus fornecedores a serem mais abertos e transparentes com seus dados e documentos. Alguns fornecedores não querem compartilhar informação e sua ‘vantagem competitiva’. Outros não querem assumir mais trabalho ao usar uma nova tecnologia se eles não enxergam um benefício imediato.” Mas prova de que a blockchain pode ser implantada em empresas grandes e tradicionais, encontramos na Saga Furs, casa de leilões nlandesa que opera no mercado de peles desde 1938. Charles Ross, Business Manager, Brands, Trade and Sustainability e Marika Peuhkuri-Grön-Groen, Head of Sustainability and Certication, contam que “há mais de dez anos somos transparentes em nossa cadeia de suprimentos e apresentamos ao mundo da moda e do varejo, o STS: Saga Traceability System. A cada ano o número de empresas que tomam parte no programa STS aumenta, pois temos condições de oferecer o rastreamento da pele desde seu ponto de partida, ou seja, entre o grupo de fazendas 100% certicadas que produzem as peles que comercializamos.” Um outro modelo de negócios com fome e pressa de transparência, segundo Walfredo é o “das empresas que já nascem éticas.” Para elas, a Genuine Way oferece uma tecnologia com visão de ecossistema, ou seja, ao colocar os documentos da empresa na blockchain, é possível conectá-las com o consumidor millennial, “que tem esses valores, é interessado em comprar produtos com esses valores, mas que até poucos anos era difícil fazer acontecer.” A conança que podemos depositar nessa tecnologia só é possível porque as informações fornecidas pela empresa, uma vez inseridas na blockchain, não poderão ser modicadas ou apagadas. Para Walfredo esse é um ponto muito relevante e que normalmente é mal compreendido:A transparência da informação, assim, é garantida pela estrutura da tecnologia em blocos de informação encadeados – informações sobre os produtos, os produtos em si (materiais físicos) e os processos físicos que deram forma aos materiais - rastreáveis e acessíveis em qualquer fase de seu processo. Esse ecossistema cria identidades digitais únicas (como um RG) que, em pouco tempo, serão a chave da conança e da reputação das empresas de moda, pois a transparência é o grande valor de qualquer negócio e é uma exigência inegociável do novo consumidor.33“Muita gente pensa que porque um documento está lá é verdadeiro ou certo. Dicilmente nós poderemos saber se o documento é uma fraude, porém, o motivo que nos leva a acreditar na blockchain é porque se cria uma responsabilidade na medida em que os documentos se tornam públicos. Com isso, a empresa terá uma oportunidade de dar um passo adiante em termos de marketing e de comunicação, pois assumiu um compromisso público por meio de documentos. É como se a empresa fosse a um cartório e zesse uma declaração. Se um documento é falso, é difícil saber, mas nós criamos um círculo virtuoso, pois as empresas se comprometem com isso.”

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34 Charles e Marika entendem “que a transparência e responsabilidade são premissas que estão no DNA da Saga Furs,” pois, sendo uma empresa de capital aberto que opera desde 1938 e comercializa mais de 12 milhões de peles por ano, já é constantemente auditada por entidades externas. Os processos implantados até agora, “permitem que os consumidores descubram que as peles atentem ao mais alto nível de padrão de bem estar animal segundo auditorias externas realizadas por terceiros.” Eles destacam, por exemplo, que estão garantidos o bem estar animal, que tem relação com as condições de vida na fazenda, a economia circular e, também, os benefícios nanceiros decorrentes da certicação da produção de peles nas áreas rurais onde as fazendas estão localizadas. Em breve, ainda, será lançado o programa SAGA TRAC/RFID que conecta o ponto de venda à fazenda. “Isso vai aumentar o comprometimento do consumidor, pois ele saberá o país de origem, de manufatura bem 4 PILARES DA TECNOLOGIA BLOCKCHAIN1- RASTREABILIDADE: Por rastreabilidade entende-se a possibilidade de rastrear uma cadeia de algo, desde a fonte de todas as suas matérias-primas, até o descarte. Inclui informações sobre os processos realizados e também sobre o transporte, embora esses não alterem o produto. A ideia de rastreabilidade é uma proposta de controle que tem sua origem na ISO 9001.“Se queremos falar de inovação e sustentabilidade é nas pequenas empresas e nas start-ups que encontramos a inovação verdadeira e profunda. O uso de novos materiais, a circularidade... a nova visão de consumo de um produto. As grandes empresas só podem ser seguidoras, colher as tendências. Esperamos realmente integrar, mas sabemos que para eles é muito difícil fazer transformações profundas. Nós trabalhamos com os pequenos porque queremos os destinatários e que leva a comunicação das tendências efetivas de inovação.” 2- TRANSPARÊNCIA: A transparência é medida pelo compartilhamento das informações rastreáveis, tendo normalmente como objetivo estabelecer informação segura com consumidores, fornecedores, trabalhadores e investidores. Atualmente, a transparência é um dos valores mais importantes que um negócio pode ter.como informações sobre as certicações. Tudo isso será disponível e legível por meio de um chip RFID (que funciona por radiofrequência) acoplado ao produto nal. Por outro lado, os clientes da Retraced e da Genuine Way, tendem a ser empresas mais novas cujo nascimento já é embebido na transparência e, por isso, estão mais dispostas a aderir a à tecnologia. Segundo Walfredo,

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354 PILARES DA TECNOLOGIA BLOCKCHAINQUER ADERIR AO BLOCKCHAIN?PASSO-A-PASSO COM A GENUINE WAY 1. Agende uma conversa com a gente para que possamos compreender sua empresa e entender quais produtos você deseja autocertificar, isto é, dizer ao público o que é sustentável no âmbito social, econômico e ambiental.2. Entenderemos seus processos e indicaremos os documentos que serão necessários para dar essa confiança ao público. Por exemplo, uma fatura de origem de sua matéria-prima, ou um contrato de trabalho justo, que favoreça o desenvolvimento econômico e social de alguma região.3. Organizaremos e validaremos essa documentação de forma objetiva e narrativa. É importante que esses documentos possam ser aferíveis em termos de veracidade.4. Associaremos esses documentos ao produto e o registraremos em uma blockchain.5. A partir daí, entra em cena a plataforma: consumidores poderão saber mais sobre o produto e sua empresa, se autorizado pelo consumidor, poderá saber mais sobre ele.“no m do dia, a tecnologia blockchain é o futuro. Ela continuará a ter muitos usos em vários campos. Se adotada por empresas de moda latino-americanas, se criará uma chance de ocupar um lugar na vanguarda da nova geração tecnológica, caso elas se tornem indústrias líderes em transparência.”3- CADEIA DE CUSTÓDIA: A cadeia de custódia é a lógica interna da tecnologia, pois ela trata de entender e revelar quem são os responsáveis pela transformação de um produto em todas as suas etapas (da fibra ao fio, do fio ao tecido, do tecido cru ao acabado, do tecido à costura e assim sucessivamente) pois, parte do percurso do produto é realizado por entes que não o transformam (por exemplo transporte ou embalagem).4-AUDITORIA FÍSICA: Realizada por terceiros autorizados (normalmente empresas de certificação) capazes de verificar, em laboratório, a veracidade física da composição do produto final, relacionando-o à cadeia declarada.Quanto ao futuro da moda, sem dúvida, a transparência é a palavrachave para atenuar problemas com a gestão da sustentabilidade ambiental e do impacto social, principalmente da produção. Para Tai, as marcas devem entender que o mercado valorizará a transparência e que o custo da implantação será absorvido pela maior eciência de operações que poderá ser conquistada:

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TECNOLOGIA TÊXTIL PARA PROFISSIONAIS DA MODAE-BOOK EXCLUSIVOE-book exclusivo da Fashion For Future para prossionais de moda que precisam ter mais conhecimento sobre a tecnologia têxtil. Este material tem 100 páginas incluindo um repertório básico de tecidos e de estampas, além de desvendar, de forma técnica, as propriedades dos principais materiais têxteis e sua inuência no caimento das peças.DISPONÍVEL EM NOSSA BOOKSTORE